Domingo, 30 de Março de 2008
A vida verdadeira
Pois aqui está a minha vida.
Pronta para ser usada.
Vida que não guarda
nem se esquiva, assustada.
Vida sempre a serviço
da vida.
Para servir ao que vale
a pena e o preço do amor
Ainda que o gesto me doa,
não encolho a mão: avanço
levando um ramo de sol.
Mesmo enrolada de pó,
dentro da noite mais fria,
a vida que vai comigo
é fogo:
está sempre acesa.
Vem da terra dos barrancos
o
jeito doce e violento
da minha vida: esse gosto
da água negra transparente.
A vida vai no meu peito,
mas é quem vai me levando:
tição ardente velando,
girassol na escuridão.
Carrego um grito que cresce
Cada vez mais na garganta,
cravando seu travo triste
na verdade do meu canto.
Canto molhado e barrento
de menino do Amazonas
que viu a vida crescer
nos centro da terra firme.
Que sabe a vinda da chuva
pelo estremecer dos verdes
e sabe ler os recados
que chegam na asa do vento.
Mas sabe também o tempo
da febre e o gosto da fome.
Nas águas da minha infância
perdi o medo entre os rebojos.
Por isso avanço cantando
Estou no centro do rio
estou no meio da praça.
Piso firme no meu chão
sei que estou no meu lugar,
como a panela no fogo
e a estrela na escuridão.
O que passou não conta ?, indagarão
as bocas desprovidas.
Não deixa de valer nunca.
que passou ensina
com sua garra e seu mel.
Por isso é que agora vou assim
no meu caminho. Publicamente andando
Não, não tenho caminho novo.
O que tenho de novo
é o jeito de caminhar.
Aprendi
(o que o caminho me ensinou)
a caminhar cantando
como convém
a mim
e aos vão comigo.
Pois já não vou mais sozinho.
Aqui tenho a minha vida:
feita à imagem do menino
que continua varando
os campos gerais
e que reparte o seu canto
como o seu avô
repartia o cacau
e fazia da colheita
uma ilha do bom socorro.
Feita à imagem do menino
mas a semelhança do homem:
com tudo que ele tem de primavera
de valente esperança e rebeldia.
Vida, casa encantada,
onde eu moro e mora em mim,
te quero assim verdadeira
cheirando a manga e jasmim.
Que me sejas deslumbrada
como ternura de moça
rolando sobre o capim.
Vida, toalha limpa
vida posta na mesa,
vida brasa vigilante
vida pedra e espuma
alçapão de amapolas,
sol dentro do mar,
estrume e rosa do amor:
a vida.
Há que merecê-la
(Autoria: Amadeu Thiago de Mello)
Sábado, 29 de Março de 2008
Quando o céu nos sorri!...
... nas asas de uma gaivota, vem-nos à memória, nesta altura do ano, o quanto este mundo seria lindo se houvesse Paz, Amor e Harmonia entre os Homens.
Deixemo-nos disso. Hoje apregoamos a Paz e amanhã andamos à guerra. Hoje apregoamos o Amor e amanhã olhamos a mão que se nos estende com desdém. Hoje apregoamos a Harmonia e amanhã andamos a "cozer" na casaca do vizinho.
Vivemos num mundo hipócrita. Deseja-se que o céu nos sorria mas não fazemos nada para que assim seja.
Mata-se, viola-se, escraviza-se. Maltratam-se as crianças que por sua vez, quando adultos, maltratam outras crianças. É a “Alegoria da Caverna” de Platão, fazemos o que nos fizeram. Nada mais vemos para além da caverna.
Hoje andamos com uma lágrima no olho, por causa dos doentinhos, por causa de quem nada tem e andamos nos Centros Comerciais a atafulhar de brinquedos para crianças que no dia seguinte as colocam de lado pois o que mais têm é fartura de brinquedos, de roupas para oferecer a pessoas que a maior parte, quando as recebem, recebem-na com um sorriso e com um agradecimento mas que nunca mais as vestem ou porque as acham pirosas ou porque não fazem o gosto delas.
E assim rola o mundo.
Deixa-te de ter pena hoje de quem precisa, sim tu que me estás a ler, pois amanhã essa pena já passou e vais passar 364 dias a pensar no teu umbigo.
... E que tal começar a fazer de Hoje o teu Natal de Sempre? Todos os dias, faz do teu sorriso o teu Céu, não esperes que sejam as gaivotas a fazê-lo por ti.
(Poema da Laura - Ser Solidário)
Quarta-feira, 26 de Março de 2008
A umas saudades
Saudades de meu bem, que noite e dia
A alma atormentais, se é vosso intento
Acabardes-me a vida com tormento,
Mais lisonja será que tirania.
Mas, quando me matar vossa porfia,
De morrer tenho tal contentamento,
Que em me matando vosso sentimento,
Me há-de ressuscitar minha alegria.
Porém matai-me embora, que pretendo
Satisfazer com mortes repetidas
O que à beleza sua estou devendo.
Vidas me dai para tirar-me vidas,
Que ao grande gosto com que as for perdendo
Serão todas as mortes bem devidas.
(António Barbosa Bacelar)
Segunda-feira, 24 de Março de 2008
Saudade
Um dia a maioria de nós irá se separar.
Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, as descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que compartilhamos.
Saudades até dos momentos de lágrima, da angústia, das vésperas de finais de semana, de finais de ano, enfim... do companheirismo vivido.
Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.
Hoje não tenho mais tanta certeza disso.
Em breve cada um vai pra seu lado, seja pelo destino, ou por algum desentendimento, segue a sua vida, talvez continuemos a nos encontrar quem sabe......
nos e-mails trocados.
Podemos nos telefonar conversar algumas bobagens....
Aí os dias vão passar, meses... anos...
até este contato tornar-se cada vez mais raro.
Vamos nos perder no tempo....
Um dia nossos filhos verão aquelas fotografias e perguntarão?
Quem são aquelas pessoas?
Diremos...
Que eram nossos amigos.
E......
isso vai doer tanto!
Foram meus amigos, foi com eles que vivi os melhores anos de minha vida!
A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar uma vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente......
Quando o nosso grupo estiver incompleto...
nos reuniremos para um último adeus de um amigo.
E entre lágrimas nos abraçaremos.
Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante.
Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vidinha isolada do passado.
E nos perderemos no tempo.....
Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo :
não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades seja a causa de grandes tempestades....
Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os Meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!"
O texto é de autoria de Fernando Pessoa, mas vale para qualquer amigo externar seus sentimentos.
Quarta-feira, 19 de Março de 2008
Silêncio e Loucura
Palavras que tocam o coração,
São raios de luz numa madrugada,
Timbrados sons duma boca calada
Filhas de fértil imaginação.
Palavras que arranco do fundo da alma,
Que para a vida me servem de alento
E vão navegando ao sabor do vento,
Cortando ondas com máxima a calma.
Dias há que a tempestade perdura
E não consigo ver o fim da meta,
Porque vejo a vida muito obscura,
E, cada vez, se torna mais secreta.
No silêncio do homem, que é loucura,
Lutando com a loucura do poeta.
(José M. Raposo)
Segunda-feira, 17 de Março de 2008
Sou
Sou a luz que brilha,
Em sua alma colorida,
Bailando na música da vida.
Sou o reflexo da sua energia,
Ignorando a escuridão,
Espalhando sua magia.
Sou o segredo de seu olhar,
Quebrando toda indiferença,
Mostrando que é possível amar.
Sou o início e o fim da corrente,
Entrelaçada pelo amor e a esperança,
Que a tudo pode resistir.
Sou seu desejo e sua realização,
Vagando silenciosamente,
Entre os que não percebem nossa emoção.
(Alberto Leal - 4 junho 2007)
Sexta-feira, 14 de Março de 2008
Delicadeza
Ainda ontem estava aqui muito senhora,
Quase toda a gente a conhecia,
Ninguém sabe a razão de se ir embora,
Se foi vontade ou do tempo profecia.
Ficou apenas um vazio no seu lugar,
Entristecendo assaz quem bem a conheceu
E eu, num permanente interrogar,
Quis saber aonde e porquê se escondeu.
Perguntei sem receio a toda a gente,
Procurei no silêncio e barafunda
E já exausto, encontrei-a finalmente…
Estava ela numa amargura profunda,
Chorando a sua sina descontente,
Abandonada a um canto, moribunda !…
Quarta-feira, 12 de Março de 2008
Escondido
Estou em seus sentimentos,
Dentro da sua fortaleza,
Em contato com mares e montanhas do seu mundo,
Vendo o que nem você consegue ver.
Tiro-te a razão,
Iludo-te com a emoção,
Dou-te o mundo e te tiro o chão.
Não importa o que você possa fazer,
Não importa quem eu possa magoar,
Quero te dominar, te estraçalhar e te recriar,
Com tudo que você possa sentir,
Com tudo que você pode amar.
Até o último suspiro chegar,
Não adianta resistir,
Na essência do seu ser,
Eu jamais vou parar,
Sempre vou te surpreender.
(Alberto Leal - 4 junho 2007)
Domingo, 9 de Março de 2008
Amigos são luzes (Dorcila Garcia)
Amigos são luzes que iluminam nosso caminho quando só vemos escuridão.
Luzes que nos fazem enxergar com clareza o que nos parece tão confuso.
Luzes que depositam em nossos olhos o brilho de um abraço-irmão.
Amigos são luzes de fogos de artifício celebrando nossas vitórias.
Luzes que nos revestem de brilho diante das coisas mais singelas.
A nos embalar o sono, luzes diáfanas, refletidas na janela.
Amigos são luzes coloridas que nos convidam a sonhar.
Luzes enfileiradas adornando nossa árdua trajetória.
Luzes que se convertem em lágrimas para ao nosso lado chorar.
Amigos são luzes vindas do mar em forma de pérolas,
jóias reluzentes premiando a mais bela amizade.
Luzes de um palco encantado, que representa a verdade.
Amigos são luzes de vagalumes que voam alegres no quintal.
Luzes que iluminam nossa alma com seu belo cintilar.
Luzes mágicas, que convertem o mais rude casebre em palácio real.
Quem tem um amigo-luz é um ser abençoado.
Um dia repleto de Luz!
Sexta-feira, 7 de Março de 2008
Além da imaginação
Tem gente passando fome
E não é a fome que você imagina
Entre uma refeição e outra.
Tem gente sentindo frio
E não é o frio que você imagina
Entre o chuveiro e a toalha.
Tem gente muito doente
E não é a doença que você imagina
Entre a receita e a aspirina.
Tem gente sem esperança
E não é o desalento que você imagina
Entre o pesadelo e o despertar.
Tem gente pelos cantos
E não são os cantos que você imagina
Entre o passeio e a casa.
Tem gente sem dinheiro
E não é a falta que você imagina
Entre o presente e a mesada.
Tem gente pedindo ajuda
E não é aquela que você imagina
Entre a escola e a novela.
Tem gente que existe...
E parece imaginação.