Segunda-feira, 30 de Junho de 2008
A Busca
Como geração alguma o fez
Busco a verdade, a certeza,
Uma luz que fale do Eterno, propulsora!
Lanço-me numa ânsia louca
À vida, que vem a mim num desafio,
Descortinando cordilheiras
De incerteza, medos, aflições,
Oceanos de perplexidades
Neste mundo que dá mil respostas
Às perguntas que nem sequer formulei!
E afoga-me nas enxurradas
De suas imposições e persuasões.
Não sei se corro ou se vôo
Como Ícaro meu ser é alado...
Não sei se corro ou se vôo
Meu corpo tem asas do Infinito...
Não sei se corro ou se vôo
Asfixia-me tanto esforço!
Meus pulmões, minha respiração
É quase apagado tição,
Mas algo firme, indefinido
Me conduz inexoravelmente...
Sigo um rumo e eu diria
Dividido e ambivalente.
Faço da esperança – coragem
Meu alento de cada minuto.
Minutos crivados de encontros
E procuras, tecidos com pontos
De interrogação, interjeição,
Sem vírgula e sem ponto final.
Como ágil ave migratória
Necessariamente parto, vôo...
Embriaga-me a alegria
Da partida as tentativas
De alçar a fímbria dos horizontes
A sonhada magia da chegada!
Não sei se corro ou se vôo
Não basta considerar um luxo
Simplesmente estar vivo, aqui?
Não sei se corro ou se vôo
Angustia-me a dicotomia: Presença...
Ausência...
Plenitude... Finitude...
Sei que para dar uma resposta
Amadurecida a este mundo
Preciso amar de modo fecundo
Gratuito, sem nada a esperar
E eu não sei amar assim,
Nem sequer aprendi a amar!
Não sei se corro ou se vôo
Apenas sei: cessarei a busca
Ao encontrar a Totalidade
Em minha individualidade.
Será que todo diálogo
Interior tem este ímpar sabor?
O gosto amargo da finitude
Humana, o sabor do inacabado...
Do tudo, também do quase nada!
Ainda sou terra, luz em implosão
Equilíbrio, desequilíbrio em ação
Sou vida, sou luta, sou transformação.
Domingo, 29 de Junho de 2008
Murmúrios do mar
Neste mar que descobrimos
Nas suas ondas ouvimos
Murmúrios nos seus bramidos
Pra quem os sabe entender
Vêm por missão trazer
As mágoas nos seus gemidos.
São lamentos de naufrágios
Ou talvez até presságios
Do seu poder misterioso
Que na sua imensidão
Emergem da solidão
Dum triste mar tenebroso !...
Os seus murmúrios de dor
São brados dum pescador
Que o pérfido mar levou
Lá ganhava o pão pròs seus
Sem poder dizer adeus
Ao lar não mais regressou.
São a voz dos marinheiros
Audazes e aventureiros
Que partiram sem voltar
São mil gritos e carpidos
Das tragédias traduzidos
Pelos murmúrios do mar !…
Ouçam os MURMÚRIOS DO MAR declamado pelo autor Euclides Cavaco, aqui:
http://www.euclidescavaco.com/Recitas/Murmurios_do_Mar/index.htm
Sexta-feira, 27 de Junho de 2008
Ontem
Ontem, foi apenas mais um dia que passou,
Sem dar por isso, se dele não há lembrança,
Mas se dele, alguma coisa nos ficou,
Que ela seja, o alimentar duma esperança.
Ontem foi apenas, mais uma pétala caída…
Que mal caiu, foi levada pelo vento,
Dessa flor, que retrata a nossa vida,
No seu mais permanente movimento.
Para onde foi cada pétala desfolhada?
Da frágil flor, que ainda tem perfume…
Porquê? O vento as levou sem dizer nada!…
Bem sei que nada vale o meu queixume,
Porque cada ontem, é memória mitigada…
Do breve tempo…A que a vida se resume!…
Autor: Euclides Cavaco
Quarta-feira, 25 de Junho de 2008
Marcas do Tempo (Iza)
O tempo passou
deixando suas marcas
gravadas no corpo, na alma,
como a dizer... sou seu dono,
de mim, não fugirá.
Nasceu o sentimento
tão triste da rejeição
pelas marcas do tempo.
De você, pelo descaso
pela não aceitação.
Mudamos...
Envelhecemos e modificamos
o pensar, o sentir, o falar.
A insegurança voltou
mais forte, marcante.
Mas o coração....
Ah!! Este é o mesmo!
Forte, valente, sofrido,
querendo, buscando, sentindo...
Ainda amo...
O meu corpo marcado,
os seus olhos magoados,
o pensar, o sorrir.
Percebo agora o tempo passando...
Mas eu ainda vivo!
Estou aqui!
Terça-feira, 24 de Junho de 2008
Caminhar e fazer
Por que se desesperar por coisas que nada valem,
se não podes adivinhar o dia
de nova passagem?
O melhor é caminhar
lembrando aquela
imagem de Jesus
ensinando a amar e
perdoando também.
Fazer no coração brotar
apenas sementes do bem que
se possa carregar,
levando para o além
virtudes que se possa
juntar, sem nunca
ofender a ninguém.
Domingo, 22 de Junho de 2008
Os viajantes
Estou de volta
Pois não esqueço a minha paixão
O ar de minha terrinha
Do meu chão
Trouxe presentes
Poucos…
Pois muito não ganhei
Venho tão cansado
Mas cheio de esperança
Com o peito carregado de vontade
de não mais sair do meu quinhão
Tenho tanto para contar
Andei por tantas estradas
Carregado sempre de tantas esperanças
Lavrei tantas terras
Venho tão cansado
Tão só
Vou esperar a noite chegar
E ver os vagalumes clarear meu coração
Ouvir o violeiro
Em noite de luar
A consolar meu coração
Esquecer
As estradas que o mundo tem
Das noites frias
E de tanta solidão
(Edméa Reina Gallardo)
Sexta-feira, 20 de Junho de 2008
Nova estrada
Sigo sem rumo, uma nova estrada
Que poderá levar-me a recomeçar tudo
Sentindo no novo caminho o sabor da esperança
Porque na bagagem levo algumas lembranças
Lembrança de uma história construída
Com amor real e gratidão
Pelas amarguras também vividas
Que calejaram meus pés, me fincando ao chão
Entrego-me a este novo caminho sem destino
Acreditando em minha própria individualidade
Que no coração abriu-se fendas
E o "sentir" me mostra uma outra realidade
Acreditando que caminho olhando à frente
Lembrando do passado no presente
Sentindo os calos nos pés e brilhantemente
Eles me levam a uma estrada enluarada
E as estrelas na noite salpicadas
Me deixam muito mais atraente
E todos os caminhos são reluzentes
É como seguir uma estrela cadente
Saio confiante e firmemente
Não desisto de caminhar na nova estrada
Pois essa luz é do Pai, certamente
Sou apenas canal de Deus e mais nada.
(Sônia Braga Urbano)
Quinta-feira, 19 de Junho de 2008
Vagabundo (Luiz Poeta)
Nas esquinas desse mundo,
Vou pedindo meu tostão,
Um velho sapato imundo
E um vazio em cada mão.
Se choro na chuva fina,
Buscando meu agasalho,
A tristeza me domina,
Tristeza não tem atalho.
Cubro minha pele nua
Com roupas que cheiram mal,
Vou dormindo pela rua
Numa folha de jornal.
Eu só queria um amigo
Parecido com meu cão,
Que repartisse comigo
Um pedacinho de pão.
Eu só queria um amigo
Mesmo num canto qualquer;
Lua é mulher de mendigo,
Mendigo não tem mulher.
Nas estradas desse mundo
- As estradas não têm fim –
Sou um pobre vagabundo,
Ninguém tem pena de mim.
Quarta-feira, 18 de Junho de 2008
Todo o tempo é de poesia (Antonio Gedeão)
Todo o tempo é de poesia
Desde a névoa da manhã
à névoa do outro dia.
Desde a quentura do ventre
à frigidez da agonia
Todo o tempo é de poesia
Entre bombas que deflagram.
Corolas que se desdobram.
Corpos que em sangue soçobram.
Vidas qu'a amar se consagram.
Sob a cúpula sombria
das mãos que pedem vingança.
Sob o arco da aliança
da celeste alegoria.
Todo o tempo é de poesia.
Desde a arrumação ao caos
à confusão da harmonia.
Terça-feira, 17 de Junho de 2008
“Conta e Tempo”
Deus pede estrita conta de meu tempo
E eu vou, do meu tempo, dar-lhe conta;
Mas, como dar, sem tempo, tanta conta,
Eu que gastei, sem conta, tanto tempo?
Para dar minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado e não fiz conta;
Não quis, sobrando tempo, fazer conta,
Hoje quero acertar conta e não há tempo.
Oh vós que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passa-tempo:
Cuidai, enquanto é tempo, em vossa conta.
Pois aqueles que, sem conta, gastam tempo,
Quando o tempo chegar de prestar conta,
Chorarão, como eu, o não ter tempo.
Frei Antônio das Chagas (1631-1682).