Segunda-feira, 26 de Janeiro de 2009
A poesia se esfrega nos seres e nas cousas
“ Nunca sentiste uma força melodiosa
Cercando tudo que teus olhos vêem,
Um misto de tristeza numa paisagem grandiosa
Ou um grito de alegria na morte de um ser que queres bem?
Nunca sentiste nostalgia na essência das cousas perdidas
Deparando com um campo devoluto
Semelhante a uma virgem esquecida?
Num circo, nunca se apoderou de ti, um amargor sutil
Vendo animais amestrados
E logo depois te mostrarem
Seres humanos imitando um réptil?
Nunca reparaste na beleza de uma estrada
Cortando as carnes do solo
Para unir carinhosamente
Todos os homens, de um a outro pólo?
Nunca te empolgastes diante de um avião
Olhando uma locomotiva, a quilha de um navio,
Ou de qualquer outra invenção?
Nunca sentiste esta força que te envolve desde o brilho do dia
Ao mistério da noite,
Na extensão da tua dor
E na delícia da tua alegria?
Pois então, faz de teus olhos o cume da mais alta montanha
Para que vejas com toda a amplitude
A grandeza infindável da poesia que não percebes
E que é tamanha!”
( Adalgisa Nery - 1905/1980 )
Terça-feira, 20 de Janeiro de 2009
Avareza
Nunca vê o avarento
Nos outros um seu irmão
Tem falta de sentimento
E de humana compaixão.
Vive bem e com fartura
Em opulenta riqueza
Mas não sente a desventura
De quem não tem pão na mesa.
Há muitos necessitados
Que mendigam com tristeza
Quantas vezes confrontados
P'la pertinaz avareza.
Esta injusta indiferença
Que não faz nenhum sentido
É quase como doença
Sem remédio conhecido.
Quem tem a barriga cheia
E muitos banquetes come
Quase nunca liga meia
Aos pobres que passam fome.
O avarento egoísta
Na vida não tem amigos
Nada tem de altruísta
É mais pobre que os mendigos !...
Para ouvir este poema declamado pelo autor e amigo Euclides Cavaco acesse o link:
http://www.euclidescavaco.com/Recitas/Avareza/index.htm
Segunda-feira, 19 de Janeiro de 2009
Segredos (Markus)
Há coisas que nunca direi
Segredos do coração
Julgo que nem eu sei
O local onde estão
Há palavras que são segredo
E segredos que não o são
Palavras ditas a medo
Bem recheadas de emoção
Tantas coisas queria dizer
Tantas coisas que não direi
Ninguém poderia entender
Coisinhas que só eu sei
Segunda-feira, 5 de Janeiro de 2009
Ironia do Tempo
Que ironia tem o tempo misterioso
Que diz que passa velozmente sempre andando,
Mas afinal esse tempo é mentiroso,
Porque ele fica e a gente é que vai passando!...
Dizem que é velho, mas o tempo é sempre novo.
Não tem idade, pois ninguém o viu nascer,
Tal como o enigma da galinha e do ovo,
Não sabe ao certo se existia antes de o ser!...
Comanda tudo sem ter dó nem piedade
E eu perplexo fico olhando sem o ver
Imutável e, sempre em celeridade.
Rendo-me enfim, pois não sei compreender,
Apenas sinto com toda a fragilidade,
Que o tempo é rei ... e de rei tem o poder!...