Segundo a Revelação
Da Sagrada Escritura
Há sinais de predição
Qu'o mundo já pouco dura.
Há na terra assaz mudança
Como jamais fora assim
Parece que o mundo avança
P'ro seu profético fim !...
Há crimes por toda a Terra
Há violência e terror
Nunca houve tanta guerra
E nem tanto malfeitor...
Mesmo a própria Natureza
Parece estar revoltada
Actuando com estranheza
E mal sincronizada !...
Há maremotos e sismos
Tragédias e temporais
Furacões e cataclismos
Calamidades a mais !...
O Apocalipse está
A cumprir as profecias
Avisos com que nos dá
Um sinal do fim dos dias !...
Entre as trêmulas mornas ardentias,
A noite no alto-mar anima as ondas.
Sobem das fundas úmidas Golcondas,
Pérolas vivas, as nereidas frias:
Entrelaçam-se, correm fugidias,
Voltam, cruzando-se; e, em lascivas rondas,
Vestem as formas alvas e redondas
De algas roxas e glaucas pedrarias.
Coxas de vago ônix, ventres polidos
De alabastro, quadris de argêntea espuma,
Seios de dúbia opala ardem na treva;
E bocas verdes, cheias de gemidos,
Que o fósforo incendeia e o âmbar perfuma,
Soluçam beijos vãos que o vento leva...
O nascimento não é mais que sono e esquecimento;
A alma que surge conosco, a estrela da nossa vida,
Em algum lugar, já viveu o seu poente,
E percorreu distância sem medida;
Não viemos, porém, do absoluto esquecimento,
Nem da nudez total,
De nuvens gloriosas revestidos,
Viemos de Deus, que é o nosso lar.
A vida é um aprendizado,
num tempo de ir e vir.
Caindo, para depois erguer-se,
erguendo-se, para prosseguir.
É uma fração de segundos,
pintando todas as cores,
sabendo-se que neste mundo,
muito poucas são as flores.
A vida é um piscar de olhos,
onde tudo acontece,
até pra quem não merece!
A vida é um grande mistério,
indecifrável pra mim.
Talvez por ser assim: mistério sem fim!
Ser Poeta
é predicado
Não se estuda nem se aprende
É um dom ao nascer dado
Não se compra nem se vende.
Ser poeta
é possuir
Rara sensibilidade
Da voz das coisas ouvir
E dar-lhes vitalidade...
Ser poeta
é entender
A perene Natureza
E em verso descrever
A sua bruma e beleza...
Ser poeta
é divagar
Pelo Universo infinito
Na ânsia de desvendar
O seu mistério inaudito.
Ser poeta
é transformar
Duma forma enternecida
As palavras para dar
Mais sentido à própria vida!...
Ser poeta
é ter talento
De expressar a inspiração
Ousado eu... Quando tento
Sou apenas pretensão !...
SER POETA é a homenagem que o amigo Euclides Cavaco dedica aos poetas do mundo, lembrando o dia mundial da poesia, instituido pela Unesco, a cada 21 de março.
"Queria ser um ser humano vazio.
Um ser humano que só é capaz de ver com os olhos.
Mas que não consegue sentir com o coração.
Um ser humano diferente dos outros seres
Um ser humano completo.
Um ser humano capaz
Um ser humano único
Aquele que não chora
Aquele que manda no coração e esse obedece sem contestar.
Aquele que consegue ver por trás das coisas, pessoas (essência).
Aquele que não erra.
Aquele que não sente saudades. Essa palavra aliás, nunca houve no seu dicionário.
Aquele que faz do tempo, um tempo passado. Aproveitando cada momento como um momento só seu.
Deixando de se preocupar com os outros e preocupando-se mais consigo mesmo.
O que não faz de alguém egoísta, mas realizado consigo mesmo.
Que não seja acomodado, mas que seja compreensivo.
Que seja realista, pois assim terá os pés no chão.
Um no chão vivendo o presente e um outro pé no futuro. Lutando desde cedo por seus ideais, seus sonhos, idéias, planos.
Para que esses possam se concretizar num futuro próximo.
Afinal, ninguém vive de sombra e água fresca.
Pode até viver, mas estamos falando de ser humano.
Acredito que a maioria dos seres humanos, perfeitos ou não querem o melhor para si e para suas vidas. Ou então esquece ninguém é perfeito!"
Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.
E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da nação.
Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.
(Miguel Torga)